ESTUDOS EM RATOS BRANCOS QUE COMPROVAM A EFICÁCIA DA AHT


LINK OTIGINAL DA PUBLICAÇÃO http://www.unieuro.edu.br/downloads_2009/reeuni_04_004.pdf


ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
39
Recebido em: 20/11/2008
Revisado em: 18/12/2009
Aceito em: 20/02/2009
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA AUTO-HEMOTERAPIA SOBRE A
CICATRIZAÇÃO E PRESENÇA DE LEUCÓCITOS SÉRICOS EM RATOS WISTAR.
EVALUATION OF THE EFFECTS OF AUTO-HEMOTERAPIA ABOUT THE
HEALING AND THE PRESENCE OF WHITE BLOOD CELL IN RATS WISTAR.
EVALUACIÓN DE LOS EFECTOS DE LA AUTO-HEMOTERAPIA SOBRE LA
CICATRIZACIÓN Y PRESENZA DE LEUCÓCITOS SÉRICOS EN RATONES
WISTAR.
SILVA, Célio Henrique1
SOUZA, Leandro de Jesus¹
PAPA-MARTINS, Marianna2
Resumo - A auto-hemoterapia é um procedimento antigo que se baseia no
empirismo. O tratamento consiste em aplicações do sangue autólogo, sangue do
próprio cliente, por via intramuscular, objetivando estimular o sistema imunológico
através da ativação do Sistema Mononuclear Fagocitário. Este trabalho teve por
objetivo avaliar e observar os efeitos de aplicações de auto-hemoterapia no
organismo de ratos. Formou-se dois grupos compostos por ratos Wistar albinos,
machos, onde todos sofreram uma incisão dorsal de aproximadamente 1cm², para
avaliação cicatricial, e o Grupo Desafiado recebeu aplicações de auto-hemoterapia
de sete em sete dias. A avaliação dos resultados ocorreu através de observação,
registros fotográficos e leucometria global e específica. Os exames de leucometria
foram realizados nos dias de aplicação de auto-hemoterapia, sempre antes do
procedimento e repetidos dois dias após, para verificação das mudanças no sistema
imunológico. Os resultados laboratoriais foram analisados pela média do Grupo
controle e do Grupo Desafiado, logo após, comparação de resultados sendo as
diferenças observacionais comparadas e registradas. Encontrou-se diferenças
significativas nos resultados de leucometria global do Grupo Desafiado, que foram
realizadas dois dias depois das aplicações de auto-hemoterapia, cujos resultados se
mostraram aumentados em quase duas vezes em relação ao Grupo Controle. Na
observação cicatricial notou-se que o tempo de cicatrização para os dois grupos foi
relativamente igual (aproximadamente 20 dias), porém a cicatrização apresentada
pelo Grupo Desafiado foi notoriamente mais plana, de bordas regulares e uma
1 Bacharéis em Enfermagem pelo Centro Universitário UNIEURO, Brasília – DF. E-mail:
henrique_celio@yahoo.com.br e leandrosouzabsb@gmail.com
2 Mestre em Patologia Molecular pela Universidade de Brasília e Docente do Centro Universitário
UNIEURO. E-mail: marianna@unieuro.edu.br
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
40
cicatriz final quase imperceptível. Com essa pesquisa observou-se uma notória
diferença no organismo dos ratos do Grupo Desafiado proveniente das aplicações
de auto-hemoterapia, constatando dessa forma, a ativação do sistema imune através
da aplicação de sangue autólogo intramuscular, que é o efeito proposto dessa
técnica.
Palavras-chave: auto-hemoterapia, cicatrização, leucócitos, sistema imune, rato.
Abstract - The self-hemotherapy is a very old procedure based on empiricism. The
treatment consists in applications of autologous blood, blood from the client, by
intramuscular, to stimulate the immune system, powering its action through the
activation of the Mononuclear Phagocyte System. This study had the objective
evaluate and observe the effects of applications of self-hemotherapy in the organism
of rats. The two groups were formed by albino rats Wistar, male, which all have a
dorsal incision of about 1cm square, to evaluate healing, and the Challenged Group
received applications of self-hemotherapy of seven in seven days. The evaluation of
the results occurred by observation, photographic records and specific and overall
leucometria. The examinations of leucometria had realizes in the days of applications
de self-hemotherapy, always before this procedure, and repeated two days, after for
verification of changes in the immune system. The laboratory results were analyzed
by the average of the Control Group and the Challenged Group soon after,
comparison of results and the differences compared observational and registries.
Fended differences and results of overall leucometria of Challenged Group, that had
realized two days after of applications of self-hemotherapy, whose results
demonstrade were increased in almost two times in relation to the Control Group. In
observation scarring noted that the time for healing for the two groups was relatively
equal (approximately 20 days), but the healing tabled by the Challenged Group was
most notoriously flat, and regular edges of a end scar almost imperceptible. With
thise research look a big diference in organism of rats of Challenged Group from the
applications of self-hemotherapy, noting that way, the activation of the immune
system through the application of autologous blood intramuscular, that is the effect
proposed of this technique.
Key-words: self-hemotherapy, healing, white blood cell, immune system, rats.
Resumen - La auto-hemoterapia es un procedimiento antiguo y fundamentase en el
empirismo. El tratamiento consiste en administraciones de la sangre autologo,
sangre del propio paciente, administrado por inyección intramuscular, cuyo objetivo
resulta en estimular el sistema imunológico por medio de la activación del sistema
Mononuclear Fagocitário. La investigación tubo como objetivo evaluar y observar los
efectos de administraciones de la auto-hemoterapia en ratones. Los dos grupos
foran constituidos de ratones Wistar albinas, machos, siendo que todos foran
submetidos a una incisión dorsal de aproximadamiente 1 cm², para evaluación la
cicatriz, y el Grupo Desafió recibió administraciones de auto-hemoterapia a cada
siete días. La evaluación de los resultados ocurrió através de observaciones,
registros fotográficos y leucometria geral y específica. Los exámenes de leucometria
foran realizados en los mismos días de aplicaciones de auto-hemoterapia, siempre
antecediendo el procedimiento descrito y con repeticiones dos días después, para la
verificación de los cambios en el sistema inmunológico. Los resultados de laboratorio
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
41
fueron analizados por la media del Grupo Controle y el Grupo Desafio luego
después, comparación de los resultados siendo que las diferenzas fueran
comparadas y registradas. Se encontro diferenzas significativas en los resultados de
leucometria general en el Grupo Desafio, que fueran realizados dos días después de
las aplicaciones de auto-hemoterapia, cuyos resultados mostraranse incrementados
en case dos veces cuando comparados con el Grupo Controle. En la observación
cicatricial verificase que el tiempo de cicatrización para los dos grupos fue
relativamente igual (aproximadamente veinte días), sin embargo la cicatrización
presentada por el Grupo Desafió fue sin duda más plana, bordes regulares y de una
cicatriz final casi imperceptible. Se observo una diferenza notable en ratones del
Grupo Desafio procediente de las administraciones de auto-hemoterapia, resultando,
en la activación del sistema inmunológico por medio de aplicación de la sangre
autólogo intramuscular, que es el efecto propuesta por la técnica.
Palabras clave: auto-hemoterapia, cicatrización, leucocitos, sistema inmune, ratones.
1. INTRODUÇÃO
A auto-hemoterapia é um procedimento antigo que se baseia no
empirismo, onde o tratamento consiste em aplicações do sangue autólogo, por via
intramuscular, objetivando estimular o sistema imunológico, potencializando a sua
ação através da ativação do Sistema Mononuclear Fagocitário (SMF)
(METTENLEITER, 2007).
A retirada de sangue venoso e a sua re-injeção intramuscular é um
procedimento que tem o seu primeiro registro em 1911, Francois Ravaut, nomeado
como auto-hemoterapia, sendo utilizado em diversas enfermidades como febre
tifóide e algumas dermatoses (SILVA, 2007).
Em 1941, Leopoldo Cea, no Diccionario de términos y expresiones
hematológicas, conceitua a auto-hemoterapia como sendo um método de tratamento
que consiste em injetar em um individuo uma determinada quantidade de seu
próprio sangue (ABMC, 2007).
No Brasil o assunto surge desde 1940, quando o professor Jesse Teixeira
em seu trabalho publicado e premiado na Revista “Brasil-Cirúrgico”, provou que o
Sistema Retículo-Endotelial, atualmente conhecido como Sistema Mononuclear
fagocitário, era ativado pela auto-hemoterapia. Utilizou-se de um método que
provocava a formação de uma bolha na coxa de pacientes com uma substância
irritante chamada cantárida. Antes do início do tratamento com a auto-hemoterapia a
contagem dos macrófagos era de 5%, oito horas após a aplicação o número de
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
42
macrófagos subiu para 22%, mantendo-se durante cinco dias, voltando aos 5%
iniciais ao sétimo dia após a aplicação (ABMC, 2007).
De 1943 a 1947, o então médico Luiz Moura, ainda acadêmico na
Faculdade Nacional de Medicina, iniciou a auto-hemoterapia por ordem do seu pai e
Professor Pedro Moura, nos pacientes que ele operava na Casa de Saúde São José
no Rio de Janeiro, obtendo crescente redução no número de infecções pósoperatórias
em seus pacientes (ABMC, 2007).
Segundo Moura (2008), o Sistema Mononuclear Fagocitário é ativado
pela auto-hemoterapia aumentando a produção de macrófagos. O organismo
reconhece o sangue injetado intramuscular como sendo um corpo estranho, o que
justifica a ativação do sistema inume.
O sistema imune é crucial à sobrevivência humana. Na ausência de um
sistema imune funcionante, mesmo infecções leves podem sobrepujar o hospedeiro
e se mostrarem fatais. O corpo tem dois tipos de resposta à invasão por um
patógeno: a resposta imune inata, e a resposta imune adaptativa. Ambas são
principalmente mediadas por glóbulos brancos ou leucócitos e as células teciduais
relacionadas a eles, tendo todos como origem a medula óssea (PARHAM, 2001).
Os microrganismos com potencial para causarem patologias no homem e
em animais invadem o organismo em diferentes locais e produzem vários tipos de
doença por diversos mecanismos. Os agentes infecciosos que causam patologias
são chamados de microrganismos patogênicos ou patógenos. Essas invasões são
primeiramente combatidas, em todos os vertebrados, por mecanismos de defesa
inata que age em minutos após o contato com o patógeno, e quando esta defesa
inicial esgota todas as possibilidades de contenção do microrganismo invasor e a
infecção avança é ativada outra resposta com maior especificidade, chamada de
resposta imune adaptativa (JANEWAY et al., 2007).
Parham (2001) argumenta apropriadamente que a imunidade inata entra
em ação primeiro, utiliza mecanismos de reconhecimento molecular geral para
detectar a presença de bactérias e de vírus e não leva a imunidade prolongada
àquele patógeno em particular. Esta é uma defesa pré-existente no organismo que
trabalha mecanismos de defesa celulares e bioquímicos e que está programada para
responder rapidamente a infecções. Esses mecanismos possuem ação somente
contra microrganismos, não tendo respostas contra substâncias não-infecciosas e
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
43
respondem essencialmente da mesma maneira a sucessivas infecções (PARHAM,
2001).
Os principais componentes da resposta inata são (1) barreiras físicas e
químicas; (2) células fagocíticas; (3) proteínas do sangue, incluindo frações do
sistema complemento e outros mediadores da inflamação e (4) proteínas
denominadas citocinas, que regulam e coordenam várias atividades das células da
imunidade natural (ABBAS e LICHTMAN, 2005).
A resposta imune adaptativa ou adquirida, em contraste com a imunidade
inata, é estimulada pelas exposições a agentes infecciosos cuja magnitude e
capacidade defensiva aumenta com exposições posteriores a microrganismo em
particular. As características que definem a imunidade adquirida incluem uma
especificidade extraordinária para distinguir as diferentes moléculas e uma
habilidade de se “lembrar” e responder com mais intensidade a exposições
subseqüentes ao mesmo microrganismo (ABBAS e LICHTMAN, 2005).
Quando o organismo é acometido por algum patógeno a sua primeira
linha de defesa é a resposta imune fagocítica composta pelos leucócitos
(granulócitos e macrófagos), tendo essas células a capacidade de chegarem ao
ferimento e combaterem os agentes infecciosos através da fagocitose, que é a
ingestão dos patógenos (SMELTZER e BARE, 2005).
Smeltzer e Bare (2005) descrevem: o Sistema Mononuclear Fagocitário
compreende macrófagos com uma intensa capacidade de fagocitar. Quase todos os
tecidos, órgãos e cavidades serosas abrigam uma população de fagócitos
residentes, independente da localização ou de seu aspecto, todos esses fagócitos
associados aos tecidos pertencem a uma única linhagem, conhecida como Sistema
mononuclear fagocítico, e são originadas de um leucócito circulante, denominado
monócito (SMELTZER e BARE, 2005).
Todas as células que circulam no sangue são derivadas de um progenitor
comum na medula óssea, denominado Célula-tronco hematopoiética, esta por sua
vez origina células de linhagem linfóide, mielóide e megacariócitos. A célula
progenitora mielóide se divide originando vários tipos de células, dentre elas os
monócitos, que futuramente darão origem aos macrófagos residentes nos tecidos
também conhecidos como histiócitos (PARHAM, 2001).
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
44
Segundo Stites et al. (2004), sempre que os macrófagos se deparam com
certos mediadores da inflamação ou outros sinais de lesão tecidual, a célula passa
por um processo citado como ativação do macrófago, que se particulariza por um
rápido aumento de seu metabolismo, motilidade e atividade fagocítica. Os
macrófagos ativados são fagócitos ávidos que ingerem quaisquer partículas
estranhas ou restos celulares com os quais se deparem.
No organismo existem inúmeros estímulos que podem ativar os
macrófagos, podemos citar o contato direto com certos microrganismos ou partículas
inertes, com produtos de degradação do tecido do hospedeiro ou com componentes
protéicos do sistema complemento ou do sistema da coagulação sangüínea. Existem
ainda outros potenciais ativadores dos macrófagos como o DNA bacteriano e
algumas citocinas que podem ser secretoras por linfócitos vizinhos (STITES et al.,
2004).
Conforme Abbas e Lichtman (2005), os macrófagos ativados estimulam a
inflamação aguda por meio da secreção de citocinas, quimiocinas e mediadores
lipídicos de vida curta, removem ainda tecidos mortos, secretam fatores de
crescimento que estimulam a proliferação de fibroblastos, síntese de colágeno e
formação de novos vasos sangüíneos ou angiogênese induzindo à formação de
tecidos de reparo. Determinadas substâncias, como a lisozima, os componentes do
complemento e o peróxido de hidrogênio, exibem atividade antimicrobiana, outros,
como a elastase e a colagenase, atuam ao liquefazer e remodelar a matriz
extracelular. É importante ressaltar que o Óxido nítrico (NO) secretado por
macrófagos ativados, além de ser um antimicrobiano de amplo espectro, atua
também como mensageiro para regular as funções de outras células circundantes
causando, por exemplo, a liberação de histamina e outros mediadores vasoativos
dos mastócitos e das plaquetas, desencadeando assim a resposta vascular local da
inflamação (STITES et al., 2004).
A inflamação é tradicionalmente assim definida: dor, vermelhidão, calor,
edema e perda da função. Esses sintomas são desencadeados pela ação das
citocinas e dos outros mediadores da inflamação nos vasos sangüíneos locais
(JANEWAY et al., 2007)
Com a estimulação do sistema imunológico atinge-se o objetivo da terapia
com a auto-hemoterapia, aumentando a produção de fagócitos e conseqüentemente
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
45
a defesa imunológica do organismo, obtendo melhores resultados em várias
infecções e doenças de difícil cura (MOURA, 2008).
Pela falta de pesquisas, a auto-hemoterapia enfrenta grande controvérsia
na área da saúde. Em nota publicada pelo Conselho Federal de Enfermagem
(COFEN) em março de 2007, o procedimento torna-se proibido, por tratar-se de um
tratamento para o qual não há consenso técnico e científico e nem aprovação dos
conselhos profissionais da área da saúde (COFEN, 2007).
Pretende-se nesse trabalho, desenvolver um trabalho científico que ajude
a desmistificar o uso da auto-hemoterapia, esclarecendo os efeitos e mecanismos
decorrentes desse procedimento no organismo de rotos Wistar, avaliando o
processo cicatricial e as mudanças ocorridas no sistema imunológico no período de
pesquisa.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1-ANIMAIS E GRUPOS
Foram utilizados 06 (seis) ratos Wistar (Rattus norvergicus albinus,
Wistar), machos, pesando entre 230,13 e 241,93g, provenientes do Biotério Central
da Universidade de Brasília (UNB) com aproximadamente 70 dias e ambientados no
laboratório de Fisiologia do Centro Universitário UNIEURO Campus II. As cobaias
tiveram durante toda a pesquisa água “Ad libitum” e alimentação balanceada padrão
para roedores – Labina® (Purina), mantidos em mesma gaiola à temperatura
ambiente. Esta pesquisa seguiu os preceitos éticos estabelecidos pelo COBEA
(Colégio Brasileiro de Experimentação Animal) (COBEA, 2007).
Os animais foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos
experimentais:
Grupo Controle: Os animais foram submetidos à tricotomia, lesão cutânea
e coleta de sangue para leucometria global e específica.
Grupo Desafiado: Foram realizados com as cobaias os mesmos
procedimentos descritos no Grupo Controle acrescidos da auto-hemoterapia.
O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Experimentação Animal –
CEPA-UNIEURO e aprovado sob o parecer nº 04/2008.
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
46
2.2-AUTO-HEMOTERAPIA
O sangue foi coletado através de punção da artéria da calda utilizando
seringa de insulina. O volume total de sangue é cerca de 6% do peso vivo do animal,
de modo geral, aproximadamente 25% do volume total de sangue pode ser retirado,
o que equivale a 3,5 mL de sangue tendo como base a média de peso inicial das
cobaias (CUBAS et al., 2006).
Para a realização da auto-hemoterapia, a aplicação de sangue autólogo
intramuscular é um desafio, pois esses roedores possuem uma massa muscular
muito pequena, sendo que as injeções intramusculares precisam ter pequeno
volume, pois há risco de provocar lesão muscular (CUBAS et al., 2006). Observada
tal restrição o procedimento foi realizado utilizando 100μl de sangue, que é uma
quantidade observada de sangue capaz de ativar o sistema imunológico sem causar
lesão muscular na cobaia.
2.3-PROCEDIMENTO
A pesquisa baseou-se na realização da auto-hemoterapia uma vez por
semana, durante 04 (quatro) semanas, sendo que se seguiu o seguinte protocolo:
uma vez por semana coletava-se sangue dos dois grupos para a realização de
leucometria e aplicava-se nos ratos do Grupo Desafiado a auto-hemoterapia,
totalizando 04 (quatro) procedimentos por rato. Dois dias após, coletava-se
novamente sangue dos dois grupos para a realização da leucometria e posterior
verificação das mudanças imunológicas ocorridas nesse período.
As técnicas foram realizadas seguindo-se três etapas, onde a primeira
constitui-se de sedação, pesagem, coleta de sangue, tricotomia no dorso dos
animais, lesão cutânea, auto-hemoterapia, apenas para o Grupo Desafiado, e
registros fotográficos. A segunda técnica foi realizada dois dias após a primeira,
onde se coletou sangue para análise de dados, observação cicatricial e registros
fotográficos. Por fim, a terceira técnica realizada sete dias após a primeira, destinouse
a coletar sangue para análise de dados, aplicação de auto-hemoterapia no Grupo
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
47
Desafiado, observação cicatricial e registros fotográficos. Os outros 05 (cinco)
procedimentos seguiram intercalados com a segunda e terceira técnica.
Na sedação foram utilizados chumaços de algodão embebidos em éter
etílico dentro de um dessecador, onde as cobaias foram expostas por
aproximadamente cinco minutos.
A lesão cutânea foi realizada com a intenção de avaliar a evolução do
processo cicatricial. O corte foi feito no dorso dos animais, após tricotomia local, com
uma lâmina de bisturi provocando um corte de 1cm² retirando epiderme, derme e
tecido subcutâneo.
O procedimento de auto-hemoterapia foi realizado somente no Grupo
Desafiado e os seus resultados no organismo dos animais foram acompanhados
através de exames laboratoriais (leucometria) tendo como principais parâmetros os
exames do Grupo Controle.
2.4-PARÂMETROS LEUCOMÉTRICOS:
Com a amostra sanguínea procedeu-se a leucometria global e específica,
tendo com base o Grupo Controle e os valores relacionados na Tabela 1.
TABELA 1 – Valores Hematológicos de Referência
Parâmetros Rato
Eosinófilo (%) 0-6
Linfócitos (%) 50-85
Monócitos (%) 0-5
Segmentados (%) 9-50
Fonte: CUBAS et al., 2006.
A Leucometria Global, que mede a quantidade de leucócitos por
milímetros cúbicos e não há separação dos tipos leucocitários (LIMA et al., 1997), foi
diluída em eppendorf na proporção de 10μl de sangue para 190μl de solução de
Turk. Após alguns minutos de agitação, a solução foi gotejada em câmara de
Neubauer para contagem do número total de leucócitos em microscópio.
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
48
A Leucometria Específica, que realiza a diferenciação dos tipos de
leucócitos (LIMA et al., 1997), foi feita depositando uma amostra de sangue em
lâmina, sendo imediatamente feito o distendido da mesma, e submetida à coloração
com o kite de Coloração Rápido (Panótico). Após a secagem de 24 horas, as
lâminas foram analisadas em microscópio óptico para a diferenciação das células
brancas do sangue.
Segundo Moura (2008), após oito horas da aplicação de autohemoterapia
as células do sistema imune passam de 5% para 22%, mantendo esse
percentual por cinco dias e voltando aos 5% iniciais ao sétimo dia (MOURA, 2008).
Para efeitos didáticos consideraremos esse período de máxima ativação do sistema
imune, como período ou dia de pico.
3. RESULTADOS
3.1-LEUCOMETRIA GLOBAL
As amostras sangüíneas foram analisadas em câmara de Neubauer e
coradas com solução de Turk, estas apresentaram valores diversificados, sendo que
na primeira aplicação (29/04/08) de auto-hemoterapia encontravam-se estabilizadas
com valorações aproximadas, sendo que a média do Grupo Controle foi 14.033,33 e
a do Grupo Desafiado foi 14.566.67. Após dois dias, observou-se uma diferença
consideravelmente maior do Grupo Desafiado em relação ao Grupo Controle, sendo
que as médias encontradas foram de 24.066,67 e 12.733,33, respectivamente, conforme
Tabela 2.
Tabela 2 - Análise da leucometria global de ratos submetidos ou não a autohemoterapia
na primeira semana do experimento.
Data Grupos Mínimo Máximo Média Desvio
Padrão
29/04/2008
Auto-hemoterapia
Grupo Controle 13.500* 14.800* 14.033,33* 680,690
Grupo
Desafiado 14.500* 14.600* 14.566,67*
57,740
01/05/2008
Pico
Grupo Controle 11.200* 14.300* 12.733,33* 1.081,670
Grupo
Desafiado 22.600* 26.500* 24.066,67* 2.122,110
* leucócitos/mm³
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
49
Na segunda aplicação (06/05/08) de auto-hemoterapia as médias
sangüíneas voltaram ao normal apresentando valorações aproximadas nos dois
grupos, sendo que a média obtida no Grupo Controle foi de 13.900,00 e no Grupo
Desafiado foi de 16.533,33. No dia 08/05/2008, foi observada novamente diferenças
entre os grupos, tendo o Grupo Desafiado uma média de 22.266,66 e o Grupo
Controle uma média de 14.033,33, conforme Tabela 3.
Tabela 3 - Análise da leucometria global de ratos submetidos ou não a autohemoterapia
na segunda semana do experimento.
Data Grupos Mínimo Máximo Média Desvio
Padrão
06/05/2008
Auto-hemoterapia
Grupo Controle 12.000* 16.300* 13.900,00* 2.182,510
Grupo Desafiado 14.600* 18.000* 16.533,33* 1.665,330
08/05/2008
Pico
Grupo Controle 12.600* 16.600* 14.033,33* 2.227,850
Grupo Desafiado 20.800* 23.600* 22.266,66* 1.410,670
* leucócitos/mm³
Nos experimentos realizados na terceira semana, os resultados obtidos
foram semelhantes aos resultados das semanas anteriores. No dia 13/05/2008
constatou-se médias de 15.133,33 e de 15.500,00 respectivamente para o Grupo
Controle e Grupo Desafiado. Dois dias após (15/05/2008) uma disparidade maior do
Grupo Desafiado em relação ao Grupo Controle foi notada, tendo o Grupo Desafiado
uma média de 25.233,33 e o Grupo Controle uma média de 14.166,67, conforme podese
visualizar na Tabela 4.
Tabela 4 - Análise da leucometria global de ratos submetidos ou não a autohemoterapia
na terceira semana do experimento.
Data Grupos Mínimo Máximo Média Desvio
Padrão
13/05/2008
Auto-hemoterapia
Grupo Controle 11.100* 17.700* 15.133,33* 3.536,010
Grupo
Desafiado 13.300* 17.500* 15.500,00* 2.107,130
15/05/2008
Dia de Pico
Grupo Controle 12600* 17100* 14.166,67* 2.542,310
Grupo
Desafiado 25100* 25.400* 25.233,33* 152,750
* leucócitos/mm³
Na última semana os valores do primeiro dia (20/05/2008) permaneceram
com médias normais nos dois grupos, o Grupo Controle com uma média de 14.933,33
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
50
e o Grupo Desafiado com média de 17.000,00. Essas médias voltaram a se diferenciar
dois dias depois (22/05/2008), prevalecendo média de 26.200,00 no Grupo Desafiado
e de 15.766,67 no Grupo Controle, assim como mostra a Tabela 5.
Tabela 5 - Análise da leucometria global de ratos submetidos ou não a autohemoterapia
na quarta semana do experimento.
Data Grupos Mínimo Máximo Média Desvio
Padrão
20/05/2008
Auto-hemoterapia
Grupo Controle 11.100* 18.100* 14.933,33* 3.547,300
Grupo
Desafiado 13.700* 19.200* 17.000,00* 2.910,330
22/05/2008
Pico
Grupo Controle 15.400* 16.200* 15.766,67* 404.15
Grupo
Desafiado 24.800* 27.500* 26.200,00* 1.352,770
* leucócitos/mm³
3.2-LEUCOMETRIA ESPECÍFICA
Ao analisar os distendidos sangüíneos em lâmina corados com Panótico
em microscópio óptico, não foram observadas mudanças significativas na variação
celular, quando comparados o Grupo Controle e o Grupo Desafiado nos dias de
aplicação da auto-hemoterapia e nos dias de pico, conforme Tabelas 6 e 7.
Tabela 6 - Análise de leucometria específica de ratos submetidos ou não a autohemoterapia
nos dias de realização do procedimento
Data Grupos Células Mínimo Máximo Média Desvio
Padrão
29/04/2008 Grupo
Controle
Monócitos 0* 2* 1,333* 1,154
Linfócitos 72* 86* 81,333* 8,082
Eosinófilos 0* 0* 0* 0
Segmentados 12* 24* 16,666* 6,429
Grupo
Desafiado
Monócitos 2* 5* 3,666* 1,527
Linfócitos 71* 80* 75* 4,582
Eosinófilos 0* 0* 0* 0
Segmentados 15* 27* 21,333* 6,027
06/05/2008 Grupo
Controle
Monócitos 6* 15* 9,666* 4,725
Linfócitos 72* 80* 77* 4,358
Eosinófilos 0* 0* 0* 0
Segmentados 4* 20* 10* 8,717
Grupo Monócitos 17* 31* 25,666* 7,571
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
51
Desafiado Linfócitos 61* 68* 64,666* 3,511
Eosinófilos 0* 0* 0* 0
Segmentados 6* 15* 9,666* 4,725
13/05/2008
Grupo
Controle
Monócitos 8* 32* 19* 12,124
Linfócitos 44* 83* 59,333* 20,792
Eosinófilos 0* 4* 2* 2
Segmentados 9* 28* 19,666* 9,712
Grupo
Desafiado
Monócitos 4* 19* 11,333* 7,505
Linfócitos 71* 80* 75,666* 4,509
Eosinófilos 1* 5* 3* 2
Segmentados 0* 17* 10* 8,888
20/05/2008 Grupo
Controle
Monócitos 1* 4* 2,333* 1,527
Linfócitos 12* 89* 83,333* 9,814
Eosinófilos 0* 1* 0,333* 0,577
Segmentados 9* 18* 12,333* 4,932
Grupo
Desafiado
Monócitos 0* 5* 3* 2,645
Linfócitos 70* 90* 79,333* 10,066
Eosinófilos 0* 2* 1* 1
Segmentados 9* 24* 16,666* 7,505
* leucócitos/mm³
Tabela 7 - Análise de leucometria específica de ratos submetidos ou não a autohemoterapia
nos dias de pico
Data Grupos Células Mínimo Máximo Média Desvio
Padrão
01/05/2008 Grupo
Controle
Monócitos 2* 6* 3,666* 2,081
Linfócitos 78* 91* 85,333* 6,658
Eosinófilos 0* 0* 0* 0
Segmentados 6* 20* 12,33* 7,094
Grupo
Desafiado
Monócitos 3* 6* 4,666* 1,527
Linfócitos 71* 81* 76,333* 5,033
Eosinófilos 0* 2* 1* 1
Segmentados 12* 24* 18* 6
08/05/2008 Grupo
Controle
Monócitos 6* 8* 7* 1
Linfócitos 61* 81* 72,333* 10,263
Eosinófilos 0* 2* 1* 1
Segmentados 10* 32* 19,666* 11,239
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
52
Grupo
Desafiado
Monócitos 8* 29* 18* 10,535
Linfócitos 58* 87* 70,333* 14,977
Eosinófilos 0* 4* 2,333* 2,081
Segmentados 2* 21* 9,333* 10,21
15/05/2008 Grupo
Controle
Monócitos 4* 11* 8* 3,605
Linfócitos 68* 86* 75,666* 9,291
Eosinófilos 1* 4* 2,333* 1,527
Segmentados 9* 19* 14* 5
Grupo
Desafiado
Monócitos 14* 26* 19,666* 6,027
Linfócitos 61* 83* 69,333* 11,93
Eosinófilos 0* 0* 0* 0
Segmentados 3* 20* 11* 8,544
22/05/2008 Grupo
Controle
Monócitos 1* 16* 8,333* 7,505
Linfócitos 62* 88* 75* 13
Eosinófilos 0* 0* 0* 0
Segmentados 11* 22* 16,666* 5,507
Grupo
Desafiado
Monócitos 1* 19* 7,666* 9,865
Linfócitos 75* 92* 83* 8,544
Eosinófilos 0* 0* 0* 0
Segmentados 6* 15* 9,333* 4,932
* leucócitos/mm³
3.3- AVALIAÇÃO CICATRICIAL
Os resultados obtidos na avaliação cicatricial foram discretos, porém de
grande valor para essa pesquisa. Notou-se que o tempo de cicatrização para os dois
grupos foi relativamente igual (aproximadamente 20 dias) e que não apresentou
intercorrências. Porém a cicatrização apresentada pelo Grupo Desafiado foi
notoriamente mais plana, de bordas regulares e uma cicatriz final quase
imperceptível, enquanto o processo cicatricial obtido pelo Grupo Controle apresentou
formas irregulares, uma cicatriz final aparente de aproximadamente 0,5 cm e pouco
abaulada, como mostra a Figura 1.
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
53
B
Resultado
Cicatricial
Resultado
Cicatricial
Figura 1 – Avaliações fotográficas da evolução cicatricial de dois ratos, primeiro e último dia de
experimento, sendo o de número 02 (dois) pertencente ao Grupo Controle e o de número 04 (quatro)
ao Grupo Desafiado. Em A e C foi realizado, após tricotomia dorsal, uma incisão de 1cm² removendo
epiderme, derme e tecido subcutâneo. Em B observa-se um resultado cicatricial delineado e pouco
abaulado, notam-se alguns pontos avermelhados, que são o resultado do sangramento devido à
tricotomia local. Em D o resultado cicatricial é quase imperceptível.
4. DISCUSSÃO
As amostras sangüíneas coletadas e analisadas na leucometria global
apresentaram resultados significativos e esperados. Durante as quatro semanas de
experimento registraram-se alterações do sistema imunológico decorrentes das
aplicações de auto-hemoterapia. Moura (2008), relata apropriadamente que após a
aplicação de auto-hemoterapia o sistema imunológico é ativado aumentando o
quantitativo de células de 5% para 22% após oito horas da aplicação, mantendo
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
54
esse potencial durante cinco dias e voltando aos 5% iniciais ao sétimo dia (MOURA,
2008). Essa pesquisa teve como base dois dias da semana, pré-estipulados e
subseqüentes durante quatro semanas, no primeiro dia em que se fez a coleta de
sangue para a realização dos exames e logo após aplicava-se auto-hemoterapia nos
ratos do Grupo Desafiado, os resultados da leucometria global apresentaram-se
normais com valorações aproximadas nos dois grupos indicando que não havia
alterações no sistema imunológico dos ratos. Quando se repetiu os exames dois
dias após nos resultados da leucometria global, encontrou-se uma significativa
diferença entre os dois grupos, o Grupo Controle continuou não apresentando
alterações imunológicas, enquanto o Grupo Desafiado mostrou uma reação
imunológica esperada no quantitativo leucocitário, aumentada em quase duas vezes
em relação ao primeiro dia e ao Grupo de Controle. Essa reação justifica-se pela
estimulação do sistema imunológico, através da auto-hemoterapia, o qual configura
o propósito desta técnica.
Não foi encontrada grande quantidade de monócitos no sangue, segundo
Lima et al., (2007), durante o processo inflamatório, monócitos recrutados da
circulação sangüínea para o parênquima tecidual são ativados para se tornarem
células com função fagocítica e passam a ser chamados de macrófagos, essas
células podem reconhecer, fagocitar e degradar bactérias opsonizadas tornando-se
as principais células efetoras da resposta imune (LIMA et al., 2007). Desta forma
verificou-se, através da leucometria específica, que não houve aumento do número
de monócitos circulantes no sangue, esse achado pode sugerir que tais células
tenham sido recrutadas para os tecidos, atuando agora como macrófagos no local
da possível infecção.
Os resultados cicatriciais observados nos grupos mostraram que não há
diferença no tempo cicatricial, pois não houve resultados significativos no período
evolucional de cicatrização da ferida. Porém notou-se que a cicatrização apresentou
diferenças ao final do processo cicatricial, o Grupo Controle apresentou cicatrizes de
formas irregulares, uma cicatriz final aparente de aproximadamente 0,5 cm e pouco
abaulada, enquanto o Grupo Desafiado teve cicatrizes mais planas, de bordas
regulares e uma cicatriz final quase imperceptível, tal fato se deve a vários fatores
dentre eles a inflamação, que inclui a participação de diferentes tipos celulares, tais
como neutrófilos, macrófagos, linfócitos, plaquetas, entre outras (MANDELBAUM,
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
55
2003). Do mesmo modo Leibovich e Ross (1975), apud Lima et al., (2007),
sugeriram que macrófagos poderiam participar do processo de cicatrização na lesão
feita com um bisturi na pele dorsal de porquinhos da Índia. Após feita a lesão
experimental, os autores causaram monocitopenia (diminuição dos níveis de
monócitos no sangue), tendo uma série de grupos controles apropriados, assim,
conseguiram demonstrar que os animais monocitopênicos, tiveram os níveis de
fibrina elevados e que a eliminação de fibrina, neutrófilos e detritos do processo
lesivo foi retardada. O aparecimento e a proliferação de fibroblastos durante o
desenrolar da lesão foram mais lentos nos animais com depleção de macrófagos.
Baseados nesses resultados, os mesmos autores sugeriram um papel fundamental
para macrófagos durante a fase cicatricial de lesões feitas por bisturi em porquinhos
da Índia (LEIBOVICH e ROSS, 1975, apud LIMA et al., 2007). Esses achados
literários sugerem que apesar da leucometria específica não ter apresentado
alteração celular, pode-se inferir que houve o processo de quimiotaxia de
macrófagos para os tecidos, auxiliando dessa forma no processo cicatricial. Como a
auto-hemoterapia estimula o sistema imunológico e aumenta as células de defesa e
de inflamação no sítio cicatricial (MOURA, 2007), é plausível que este evento
justifique a diferença entre os processos cicatriciais apresentados pelos grupos.
Durante o período da pesquisa, não foram observadas quaisquer reações
adversas nas cobaias, ressaltando que deve-se ter precauções para a realização de
tal procedimento. No entanto, observou-se que a população entende o termo “Auto”
como sendo um procedimento que qualquer pessoa pode fazer, quando na verdade
é uma técnica que deverá ser de utilização restrita a hospitais ou ambientes capazes
de dar suporte caso haja alguma intercorrência e devendo ser aplicada
exclusivamente por enfermeiros ou médicos. Ressaltada tal observação, propõemse,
com esse trabalho, a mudança da terminologia de auto-hemoterapia para
Hemoinfusão.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A auto-hemoterapia apesar de ser uma terapia antiga, ainda hoje é
desconhecida. Apesar de existirem muitos relatos e evidências sobre o seu uso,
atualmente, não há pesquisas realizadas que comprovem a ação da referida técnica,
e é com base nesses argumentos que justificou-se o desenvolvimento dessa
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
56
pesquisa. Ressaltando ainda que procurou-se conhecer as propriedades e o
mecanismo de ação da re-injeção intramuscular de sangue autólogo no organismo
de ratos.
A aplicação de auto-hemoterapia em ratos Wistar produziu uma reação
imunológica no organismo dos ratos do Grupo Desafiado, mostrando que com o uso
desta técnica há um aumento na quantidade de células de defesa do sistema imune
e que a cicatrização observada nos ratos do Grupo Desafiado foi mais plana e uma
cicatriz menos aparente do que nos ratos do Grupo Controle.
Com os resultados obtidos podemos avaliar que a auto-hemoterapia pode
ter seus efeitos benéficos frente à participação leucocitária e à cicatrização.
6. REFERÊNCIAS
ABBAS, Alul K.; LICHTMAN, Andrew H. Imunologia Celular e Molecular. 5ª ed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2005.
Associação Brasileira de Medicina Complementar (ABMC). Auto-Hemoterapia.
Disponível em .
Acesso em 12/08/2007.
Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA). Princípios Éticos na
Experimentação Animal. Disponível em . Acesso em
14/09/2007.
Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Noticias COFEN. Disponível em
.
Acesso em 15/04/2007.
CUBAS, Zalmir S. et al. Tratado de Animais Selvagens – Medicina Veterinária.
São Paulo: Roca,2006.
JANEWAY, Charles et al. Imunobiologia: O sistema imune na saúde e na
doença. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
LEIBOVICH, S.J.; ROSS, R. apud LIMA, Rafael R. et al. Inflamação em Doenças
Neurodegenerativas. V. 21. Pará: Revista Paraense de Medicina, 2007.
LIMA, A. O. et al. Métodos de laboratório aplicados à clinica. 5 ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
LIMA, Rafael R. et al. Inflamação em Doenças Neurodegenerativas. V. 21. Pará:
Revista Paraense de Medicina, 2007
ARTIGO ORIGINAL
REEUNI – Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO
REEUNI, Brasília, v.2, n.1, p. 39-57, jan/abr, 2009
57
MANDELBAUM, Samuel H. et al. Cicatrização: conceitos atuais e recursos
auxiliares – Parte I. Anais Brasileiros de Dermatologia, 2003.
METTENLEITER, Michael W. Autohemotransfusão como Prevenção de
Complicações Pulmonares Pós-Operatória. Disponível em
.
Acesso em 12/08/2007.
MOURA, Luiz. Transcrição do DVD: Auto-hemoterapia, conversa com o Dr. Luiz
Moura. Disponível em .
Acesso em 05/03/2008.
PARHAM, Peter. O Sistema Imune. Porto Alegre: Artmed, 2001.
SILVA, Maria Clara S. Auto Hemoterapia. Disponível em
. Acesso em 10/08/2007.
SMELTZER, Suzanne C.; BARE, Brenda G. Tratado de Enfermagem Médicocirúrgica.
10° ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005
STITES, Daniel. et al. Imunologia médica. 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004.